Em meados de um dia ensolarado, sem refúgios pela
chuva ou pela neblina, que me protegem dos olhos ladinos na rua, onde cada
molécula de meu corpo eu sentia derreter e arder pelos poros da pele,
transpirando uma pressa de não sei de quê, pois andava pela rua sem rumo e
direção certa. Correndo e não respeitando os semáforos, não tardou para meu
fôlego exaurir. E o instante de silêncio entre o inspirar e o expirar de meus
pulmões buscando violentamente o ar denso daquela atmosfera febril, foi
instante da colisão de meus olhos nos teus passos curtos e sem pressa, ao
contrário dos meus. Contrariamente também passos certos em uma direção. Invejei
tua certeza e a suavidade que teus sapatos tocavam o chão. Agora dentro de mim
aflorava uma quietude que alimentavam meus olhos atentos nos segundos que
possuíam tua presença. Logo partirias daquela rua, partirias também meu coração
que palpitava forte almejante de ti. Me perguntei quem serias, para onde irias,
quis te seguir para onde fostes, desconhecendo meu rumo, mas possuinte de um.
Serias meu destino final, mas não tive coragem de mover um músculo, meus olhos
continuaram fitando teu rosto, teus olhos cobertos por um par de lentes escuras
que te protegiam do sol e perpetuavam a dúvida de minha invisibilidade. Não
sabia se me vias, mas sabia que te via e que partias para perto de um cenário
onde eu poderia nunca mais o ver novamente. O sol me alardeava, na manhã
seguinte minhas bochechas quentes ardiam, assim como meu ódio pessoal por não
ter ido junto à ti. Revivi durante semanas este ódio, me rogando pragas e
fazendo promessas para quando o visse novamente. Agora parto pelas ruas da
cidade com a mesma pressa e sede daquela tarde ensolarada, procurando te cruzar
pela aquela mesma rua e a andar conforme teus passos lentos.
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