Escrevo essas linhas para o futuro, espero que não tão perverso... sei que temos uma idealização bem poética sobre a virtude de todos os seres, mas você está enganada, Sal. O mundo tem potencial para ser igualmente bom ou mal, a carne de todos os seres é muitas vezes corrompida por coisas que você não entende. Não seja ingênua e se proteja.
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
sábado, 27 de outubro de 2018
Foram muitos espaços que silenciei. Escrever sempre foi um ato antropofágico para mim, sempre me alimentando com um pedaço cru meu. A carnificina da minha existência foi essa, escrever e me sujar do meu próprio sangue num ato cíclico e sem fim.
Durante toda a minha vida fui espectadora, dificilmente participei dos momentos vividos. Por algum motivo, eu não estava lá, ainda que não tenha certeza de onde eu estava se não ali onde estava. Porém de alguma - estranha - forma posso dizer que sim era eu ali, um eu sintético e postiço, um eu fragmentado. Um outro pedaço - não tão cru - de mim representando meu todo. Essa foi a grande questão de minha vida, entender quem eu era e entender minha representação diante do mundo. Diante de todas as pessoas que acreditavam e acreditam que minha representação fragmentada é, de fato, meu eu.
Pedaço meu que tantas vezes escutei ser belo e me senti trapaceando. Pensei inúmeras vezes estar engasgada, escrevi sobre isso! Sempre numa espécie de suplício: eu não consigo existir. Estou aqui dentro, apenas observando. E por mais frustrada que seja minhas tentativas, permaneço aqui com o rosto vermelho sem conseguir me pronunciar por completo.
quarta-feira, 13 de junho de 2018
É frequente que eu me distancie da escrita e ainda mais frequente que eu me distancie desse blog.
quarta-feira, 28 de março de 2018
Penso no quão egocêntrico tem sido minhas linhas. Quão covarde, prepotente e solitário é escrever. Quanto de mim eu descobri alimentando essas páginas. Quanto de mim registrei e perpetuo histórias do meu eu passado, estático e delicado. Recitado para estranhos, entre vírgulas e datas.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018
Eu não compreendo a carnificina da existência. Os dias parecem me comer vivo. Minhas palavras me engolem numa contradição antropofágica. Eu, que as dou vida, morro no momento que o faço.
Reconheço minhas mortes como penitência e num último instante de lamentação engulo seco meus pedidos de suplício. Não quero morrer em vão. Quero que lembrem meu nome, quero que reconheçam meu sangue. De santo nada possuo, mas não posso morrer como poeta vazio. Quero que vivam pelas mesmas palavras que me matam, quero que sintam o cheiro do meu sangue derramado nas páginas que seguem minha autobiografia barata.
Eu não aprendi nada vivendo, porque vivi só. É impossível evoluir vivendo em solidão. Eu me escondi de todas as pessoas que tentaram se aproximar e meu único meio de comunicação com o mundo externo é e tem sido minha escrita. É aqui que eu grito e velo meu desespero. Sim, estou desesperado. Extremamente desesperado. Anunciaram minha morte e não há nada que eu possa fazer para impedi-la. Irei partir assim, desesperado. Lamentando minha própria miséria, meu fracasso. Lamentando não ter deixado um último beijo aos que eu tenho amado. Lamentando por ter nascido com minha morte prematura anunciada, lamentando por ter desacreditado no destino e estar aqui, por fim, cumprindo o meu.
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
Recordo, com pouca nitidez, que costumava viver a vida com passos apressados. Até o início de minha juventude, senti pulsante em meu sangue a necessidade de presenciar todos os momentos, encher meus pulmões com todos os ares e enxergar tudo que meus olhos alcançassem. Era incapaz de dormir com leveza ou respirar fundo pela manhã, pois meu coração intranquilo não me permitia paz alguma, sedento pela constante presença de novidades em meu cotidiano.
Contudo – e até hoje procuro entender os verdadeiros motivos – minha personalidade sofreu uma fatídica mutação, quando completei minhas poucas e limitadas dezoito primaveras, tornei-me uma pessoa calma. Sou hoje impassível, ainda que deseje igualmente presenciar momentos, encher meus pulmões com diversos ares e enxergar tudo que meus olhos consigam enquanto me há a visão, mas ao deitar-me à noite, ao inspirar pela última vez lúcida antes de dormir, estou calma.
Consigo enxergar o que meus olhos antigos não viam com tanta precisão, eu consigo ver a poesia. Quase palpável, estática em todos os segundos em que existo. Faz parte de minha essência conviver com o drama de presenciá-la a todo instante, faz parte de minha sina compreender que eu possa pareça alheia ao apreciar vazios que aparentam estar silentes, mas que para mim gritam. Faz parte de meu exercício buscar alguém que me reconheça, que veja através do mesmo par de lentes que o meu.
Não creio em doutrinas religiosas, minha fé não possui autoridades, não possui comunidade. Minha crença caminha livre pelo universo, está no ar, na atmosfera. Está no que não é ouvido e não é visto há anos luz de nós, está nos laços familiares, na aptidão humana de sentir calafrios ou dilatar as pupilar ao ver algo que goste, minha crença caminha junto à toda a bondade e educação já vivida, eu creio no altruísmo e no amor. Posso parecer ingênua e tola, mas agarrar-me à esta crença me faz existir num mundo bonito, alicerçado na esperança que luta contra aos massacres e guerras humanas. E enquanto eu existir, será isso que defenderei. Apesar de curta e imprevisível, a vida me permitirá deixar meu legado pessoal, minha herança. Enquanto eu puder viver e ensinar o amor, o farei. Será minha incessante busca, a única inquietação de meu peito.
domingo, 28 de janeiro de 2018
A falta de sono foi o presente que a vida me deu. Aos insones resta a sina de ter muito o que pensar. Eu não preciso desabafar, pois todas as noites revivo meus dias e dores enquanto converso comigo olhando para o escuro retangular e sinistro do meu quarto. A parca iluminação da janela reproduz formas estranhas à noite. Eu não preciso ter a quem recorrer, se meu eu noctívago usa destas mesmas formas e demônios como amigos com a mesma intimidade de quem serve café de fim de tarde para as visitas. Eu sou só porque deus me fez só, deus me fez insone. Minhas olheiras fundas e meu estado quase sempre automático anunciam meu existencialismo consequente da insônia. Sempre cansado, eu basto só. Eu basto no silêncio de meus lençóis, trancafiado em minha cabeça, sentado em uma mesa alegórica e sempre conversando com o meu reflexo no espelho posto diante a mim no outro canto desta minha mesa fictícia.
quinta-feira, 11 de janeiro de 2018
Eu não suporto mais o passageiro,
O que não é permanente eu deixo ir sem dor.
O que não é permanente eu deixo ir sem dor.
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