Consubstancial ao que sinto,
percebo meus demônios sobre mim
voando pelas partes escuras do
quarto, se rastejando em viscosidades pelo chão
escorrendo em grunhidos falsos
pelas paredes.
nada é agradável no que vejo, penso
que minha visão alucina
mas além dela eu sinto suas
aproximações, mãos velozes me acariciando a nuca
sussurros de infortúnios em
infinitas léguas. Arrancam-me! um membro em brusca ferida
e com suas magias o colocam de volta em seguida
livram-me das visíveis cicatrizes,
mas com gosto recolhem a dor de meus gritos e velam sardônicos meu corpo
trêmulo em flagelo
eu vejo, vejo meus demônios na escuridão vagarem
com horror os observo atenta e
silenciosa flutuarem sobre em mim em variáveis dimensões
atormentam minhas noites, provam
minha carne, habitam meu quarto, meus demônios.
a água da pia pinga rítmica e junto a ela pelo canto dos olhos percebo sem nitidez
um fluxo de sombras reconstruir a forma de um homem
ele me encara e caminha até mim, ajoelha-se ao lado de minha cama ofegando em meu rosto ar quente de abismo
escrevo essas linhas com meus demônios sentados no ombro do homem que me observa de perto, quase repousando seu rosto em meu colchão para ler o meu caderno
assegurando-se que meu terror seja testemunhado em linhas que ninguém acreditará
sei que o que me protege não é minha cama ou os lençois que me acobertam
mas minha tortura que entretém muito mais meus demônios do que a morte