[...] Me lembro de nosso começo
envergonhado, onde tudo nos era novidade e o medo era o que sentíamos. Eu mesma
não conseguia dormir ao teu lado, precisava que tudo fosse perfeito e as poucas
horas que eu tinha contigo te observava, estava apaixonada. Eu precisava de
cada canto teu, cada segundo da tua respiração conturbada. Amava tudo em ti.
Cada espirro, risada, história e as demonstrações de personalidade que você
mostrava timidade e as quais eu ia tecendo minha manta sobre quem era você. Quem
era você. Me doei a cada encontro, tentando te dizer que eu era diferente de
tudo que você já havia enfrentado, eu queria ser única, especial, intensa e uma
novidade perante tua vida que você tanto costumava reclamar. Eu quis te salvar.
Te salvar da insensata percepção de que a vida é apenas isso, uma mera
retrospectiva constante dos dias maçantes. Não, eu queria te mostrar que há
muito mais dessa exuberante combinação de cores, cheiros, pessoas, momentos,
histórias que chamamos comumente de... vida. Eu queria te mostrar a sinestesia,
a poesia, a melancolia dos sentimentos puros, as noites embriagadas e o que mais quis te mostrar foi o amor. Aquele que sentimos sim, com a maior
profundidade que nossos poucos anos de vida conseguem alcançar. Nos amamos nos
olhando, nariz com nariz, pupilas com pupilas, mãos e mãos, pele e pele, nos
sentindo um pouquinho mais, cada dia. Construímos uma relação como eu
imaginava, única. E ao querendo te surpreender, eu acabei me surpreendendo
também. Me surpreendi sentindo mais do que eu fui capaz, me entregando mais do
que era e assim, sendo completamente tua. É claro que eu lutei e é claro que
você lutou. Eu lutei para te conquistar, para te ter comigo, lutei contra teus
atrasos e horários, lutei contra teu silêncio, lutei contra alguém que não
queria ser meu. Você lutou contra tua barreira anos a fio construída envolta de
si, lutou contra tuas verdades, lutou contra tua própria vontade de não querer
se relacionar. Lutamos e até hoje não sei dizer se vencemos ou perdemos, mas
estávamos lá. Eu e você, você e eu... num finalmente nós.[...]