Hoje
acordei com a estranha vontade de degredar meus silêncios, atirá-los contra o recanto
extenso que me cerca. Estive fechada, fria e por ora terrivelmente abalada.
Seguiram-se lágrimas secas e um grito continuo que me feria os ouvidos. Não
soube retroceder, pela primeira vez intercalada num finalmente e estreito
impasse do que quero e o que tenho. Essa minha sede quente entornada na minha
atual realidade: absurdamente satisfeita, indiscutivelmente vil. Gostaria,
senhor, meu bem, ó... ser infinita. Disso não sou capaz, apenas elevo o que
tenho, o que me pertence. Apenas transformo o torto no agradável, o azul num
gosto fecundo e minhas tardes em memórias. Só isso posso fazer, pois aqui
dentro definha uma alma ilógica e vaga. E eis meu pior castigo: essa solidão
sem cura! Esse ódio pessoal, essa estranha que vejo ao olhar no espelho. Eu não
me conheço. E rogo, peço, imploro por isso... por uma dose violenta de mim. Um reconhecimento
visível somente aos meus olhos internos... Pois tudo que sei é o que amo e o
que anseio. Os versos que me constroem estão aqui, os sinto... mas obstruídos
por um desânimo, uma falta de acalento. Enganada pelo próprio desequilíbrio e
esquecimento de mim... Ah, tão confusa. Talvez calada eu estivesse certa, mas a
necessidade de vomitar tudo aquilo que me rasga é gritante! preciso mais de
mim. E o temor me atrasa os dias, mas sei que a qualquer hora virá uma maré
forte que me impulsionará e espero que minha descoberta seja extraordinária e grande.
Afinal, de alma pequena eu não quero viver.